PSICÓLOGA | PSICANALISTA
CRP 06/103010
DROGAS: A DEPENDÊNCIA DA DOR
Em consequência da ruptura da família, do individualismo crescente e a competição feroz em uma sociedade em contínua transformação, o ser humano é empurrado para uma crise existencial cada vez mais frequente em função da solidão. As contínuas mudanças na sociedade moderna alteram o nível de angústia, ampliadas pela insegurança e solidão do indivíduo. O aumento dos casos de depressão, vazio, tédio e solidão são também frutos de um consumo capitalista que promete preencher o vazio do sujeito e satisfazê-lo.
Diante de tal sofrimento particular e individual, aprendemos a procurar formas e objetos de prazer como um escape para os sentimentos de falta. Em diversas situações, a droga é utilizada como um objeto de prazer que promove a possibilidade de escape da falta e da angústia. Mas devido ao uso contínuo, a droga passa de objeto de prazer para apenas o objeto de necessidade que te convoca a ser saciado cada vez mais.
Freud (1930/1986), ao discutir sobre os vícios em geral, informa que é impossível enfrentar a realidade o tempo todo sem um mecanismo de fuga, seja através da fantasia e embriaguez. No caso do uso abusivo de drogas, o sujeito não consegue lidar com o que lhe rodeia e de alguma forma procura mecanismos que o façam se desprender do que lhe angustia causando tolerância à droga, e consequentemente sua dependência.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a dependência química é definida por “um padrão de uso de substâncias psicotrópicas que está causando danos à saúde”. (OMS, 1993)
De acordo com o CID 10, alguns critérios são necessários para a identificação da dependência química, como:
- a compulsão para o consumo, no qual o sujeito apresenta um desejo incontrolável de consumir a droga
- aumento da tolerância: o sujeito necessita cada vez mais de doses crescentes de uma determinada
substância para alcançar os efeitos originalmente obtidos com doses mais baixas.
- síndrome de abstinência: quando o consumo de substâncias psicotrópicas cessa ou é reduzido, ocorre o surgimento de sinais e sintomas de intensidade variável e dolorosa.
- para aliviar ou evitar a abstinência ocorre o aumento do consumo.
- o consumo da substância torna-se prioridade.
- estreitamento ou empobrecimento do repertório.
- persistência no uso da substância.
Os métodos de tratamento para a dependência química abrangem diversas intervenções, como a psicoterapia, intervenções medicamentosas, aconselhamento individual e familiar, entre outras propostas de tratamento. É importante ressaltar, que o tratamento realizado por uma equipe multidisciplinar pode trazer uma nova possibilidade de ressignificação para a vida do paciente, considerando sua história e singularidade.
A psicoterapia pode ser fundamental para a recuperação do dependente químico, pois o profissional pode auxiliar o sujeito a lidar com o seu sofrimento emocional, e propiciar ao paciente apoio, fortalecimento de seus recursos, o espaço de reflexão sobre si mesmo e desvendar novas possibilidades e caminhos para suas dificuldades.
A droga se apresenta como um sintoma de outras questões sociais, e o trabalho de analise é um caminho longo e tortuoso não se tratando apenas de eliminar o sintoma, e sim de se reordenar dentro ele.
*O texto é apenas informativo e não substitui o atendimento psicoterápico oferecido pelo psicólogo.